Homicídio de familiares/amigos

Como se sentem os familiares das vítimas?

O LUTO é um processo através do qual o nosso organismo procura gerir e ultrapassar a morte de alguém. Está associado a um conjunto de reações emocionais e físicas muito intensas, difíceis de controlar e que prejudicam o nosso bem-estar e funcionamento normal.

Perder alguém próximo (seja um familiar ou amigo) pode ser uma experiência difícil; mais difícil ainda será lidar com a morte de alguém que foi vítima de crime.

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Cada pessoa reage de forma diferente à perda de uma pessoa que lhe era próxima.

Não compares o que estás a sentir ou a forma como estás a reagir com aquilo que as outras pessoas estão a sentir ou com a forma como estão a reagir. Nestas alturas não tens qualquer “obrigação” de sentir, pensar ou reagir de determinada forma.

Não há reações certas, nem erradas…HÁ APENAS REAÇÕES. São reações naturais, que muitas pessoas têm quando vivem uma experiência difícil, dolorosa e exigente.


Apesar de ser difícil aceitar que a morte de alguém é irreversível, o sofrimento e a dor que se sentem vão passar…mesmo que demore algum tempo.

Não há um tempo fixo para conseguir ultrapassar a morte de alguém.

O tempo do processo de luto varia:
  • de pessoa para pessoa;
  • da proximidade que se tinha com a pessoa que morreu;
  • do próprio acontecimento que levou à morte do familiar ou amigo.

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Quando alguém próximo morre podemos sentir:

  • choque;
  • confusão e dificuldade em acreditar no que aconteceu ou de que aconteceu mesmo (quase que não parece real ou parece que é um pesadelo);
  • como se não fossemos capazes de sentir algo, nem de reagir;
  • raiva, dos outros, dos responsáveis pelo que aconteceu e/ou da vítima por ter morrido;
  • desejo de vingança em relação ao(s)autor(es) do crime;
  • culpa:
    • pelo que aconteceu, como se fossemos responsáveis ou tívesssemos a “obrigação” de ter evitado o que aconteceu;
    • por alguma coisa que tenha acontecido antes da morte da pessoa (ex.:, porque discutiram uns dias antes; porque não tiveram a oportunidade de dizer ou fazer algo com a pessoa que morreu);
    • por estarem vivos e a vítima não;
  • vergonha:
    • por  termos demonstrado emoção na presença de outras pessoas;
    • por não termos reagido da forma que achávamos ser “normal”
  • tristeza, com vontade constante de chorar ou com frustração por não conseguir fazê-lo;
  • que a vida perdeu significado, importância ou propósito;
  • desinteresse pelas atividades que se adorava fazer, pelas pessoas de quem se gosta e por nós mesmos;
  • solidão, por acharmos que ninguém será capaz de compreender o que estamos a atravessar;
  • saudades da pessoa que morreu;
  • receio de ficarmos sós;
  • medo do(s)/da(s) autor(es) do crime, principalmente nos casos em que não houve detenção;
  • receio e ansiedade por causa do processo judicial. Consulta Testemunhar em Tribunal para mais informações sobre este assunto;
  • ansiedade em relação ao futuro da família e à capacidade económica (quando a morte é de um familiar).

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Também podem surgir reações corporais e mentais:

  • náuseas;
  • tonturas;
  • dores de cabeça;
  • cansaço e perda de energia;
  • dificuldades em dormir e/ou pesadelos (ex.: insónias);
  • perda de apetite;
  • choro constante;
  • pensamentos constantes sobre o que aconteceu;
  • pensamentos sobre a própria morte;
  • dificuldades de concentração;
  • perdas de memória;
  • confusão (ex.: não saber que dia da semana é);
  • alucinações (ex.: ver ou ouvir coisas que não existem), muitas vezes causadas pelas insónias, cansaço e confusão;
  • dificuldade em agir ou em realizar as atividades do dia-a-dia (ex.: tomar banho; ir para as aulas).
rapaz triste Pode também haver impacto negativo na vida social e familiar:
  • vontade de estar sozinho/a;
  • perda de vontade de sair, estar com pessoas de quem se gosta ou fazer coisas que antes se adorava fazer;
  • (quando a vítima era um familiar) alteração da estrutura e funcionamento da família;
  • discussões e conflitos com a família.

 

Também podem surgir mudanças no comportamento, por exemplo:

  • ter comportamentos que são típicos de crianças mais novas, como dormir de luz acesa;
  • consumir álcool ou drogas;
  • envolver-se em lutas com os colegas;
  • ter comportamentos perigosos, como a automutilação (fazer mal a si mesmo, por exemplo, magoando-se de propósito).

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Estas reações e mudanças são algumas das formas de lidar com a dor que se está a sentir; podem haver outras formas de reagir. Podes sentir outras coisas e ter muitas outras reações.
Estas reações e mudanças são temporárias (o que quer dizer que não te vais sentir assim para sempre). Caso estes sintomas se mantenham ou se perceberes que não és capaz de ultrapassar a situação sozinho/a, é importante procurar a ajuda de profissionais que te podem orientar e aconselhar.

Não te sintas culpado/a na altura que a dor passar. Isto não significa que te tenhas esquecido da pessoa que morreu: significa que já percebeste que o que se passou irá fazer para sempre parte da história de vida.

Mesmo assim, é impossível existirem alturas em que ficas mais frágil, como no dia em que a pessoa fazia anos se estivesse viva, no dia de aniversário da sua morte ou nas épocas festivas, associadas à família (como o Natal, por exemplo).